A influência dos idiomas africanos na língua portuguesa e no Brasil
Você sabia que muitas das palavras que usamos no dia-a-dia, aqui mesmo no Brasil, tem origem do outro lado do oceano? Pois é! A influência dos idiomas africanos no português data desde o início da colonização do país, se estendendo pelo período escravagista até os dias atuais.
O Brasil é o país com o maior número de pessoas pretas no mundo, fora da África: 54% da população é afrodescendente. Esse número, porém, não é de se estranhar: entre 1550 até 1888, milhões de africanos foram escravizados e trazidos à força para o Brasil.
Apesar de terem sido os últimos a chegar por aqui, os africanos de origem iorubá (que habitavam o reino de Ketu, atual Benim, e o Império de Oyo, na África Ocidental) foram trazidos em maior número em relação às outras etnias escravizadas, e com eles trouxeram uma imensa riqueza cultural! As comidas, o modo de vestir e de falar, a fé e a espiritualidade são marcas que ficam até hoje e que formam o nosso "jeitinho brasileiro".
Tradições como o Candomblé e o Batuque, por exemplo, também foram fundamentais para isso. Nessas religiões de culto aos Orixás, fundadas no Brasil por africanos, o conhecimento das rezas e cânticos nos diversos idiomas de África é essencial para vivenciar seus rituais e se conectar com a própria identidade e ancestralidade.
Ainda assim, pouco se sabe sobre a origem de muitas palavras derivadas de línguas africanas usadas no Brasil até hoje e poucas pessoas de fora dessas religiões sabem que muitas das expressões que usam no seu dia-a-dia têm, na verdade, origem no culto aos Orixás.
O racismo estrutural e religioso exercem grande papel nisso: uma das estratégias utilizadas para a manutenção da discriminação contra o povo negro foi – e continua sendo – o apagamento de sua história, fingindo não conhecer a contribuição tecnológica e intelectual do povo negro à humanidade, demonizando suas práticas de fé e retirando, assim, qualquer referência para a construção de autoimagem que não seja a de um passado escravagista.
Se em 1789, no primeiro dicionário monolíngue do idioma português, Antônio Morais e Silva já identificava várias palavras de origem africana, como batucar, cafuné, malungo e quiabo, de uso corrente entre os brasileiros, hoje em dia não é muito diferente. Em 1933, Renato Mendonça chocou a Academia Brasileira de Letras com seu trabalho provando a existência de cerca de 350 palavras de proveniência africana que se haviam infiltrado no português do Brasil. Já no final do século XX, Yeda Pessoa de Castro construiu uma tese de que existem mais de 3.000 termos africanos usados no Brasil.
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